Andre Dahmer

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A aranha brilha deveras


Pensemos a busca de uma aranha por algo que não têm, de pernas compassadas por outras no acompanhar do movimento e por vezes desdenhosa, de corpo marcado pela pomposidade. Eis aí o convite, antes estruturado pela construção da teia e esta pela indignação da difícil tarefa de capturar algo por si mesma, e tece assim a armadilha bem feitosa e o material produzido de seu próprio interior, o que é interessante. 

Esse belo que tenta-se demarcar pela aranha é um constante perseguidor, sujeitado ao ideal de perfeição, esse belo encaixa-se no feminino ao preço de suplantá-lo, expressando-se de um modo negativo. Talvez dê para fazermos uma analogia colocando a expressão feminina nas coleções de apreciações destinando sua reivindicação, "não sou bastante isso", "sou muito isso", "sou feia", "meu corpo deveria ser assim", 'meu rosto deveria ser assado", fórmulas vindas para justificar a exigência de beleza que lhe atormenta. 

A aranha não está mobilizada por um desejo pelo outro, mais sim atrair seu olhar, para que brilhe como um objeto de completude e cosiga siderar este outro envolvido na atração, devido a uma encarnação da imperfeição. A aranha agrada pensando no belo, a prova narcísica que amplifica essa dimensão destina uma procura de algo que não está nela, emboscando no outro, com ele se confundindo, valendo o desejo que se crê ser o teu e assim alcançar o auge de perfeição. Essa busca infernal da completude segue nomeando para traduzir seu próprio negativo, numa convicção permanente da imperfeição. 

A produção da forma e modelo como tece sua bela atração que por certo grudará os olhares, até que atraído, a aranha direcionará sua produção interna que se envolve na busca de um ideal imaginário que se verá envolvido por este emaranhado arranjo, e a dança seguirá sem qualquer possibilidade de escape. Por certo também que o momento não será apreciado e ficará enredado por esta produção até o momento da concretização, assim desmanchando-se pelo possível mal-estar.