Andre Dahmer

domingo, 6 de março de 2011

Detalhes de Continuidade



Por favor, o assistente gostaria de fazer uma observação. Há detalhes que surpreende a continuidade de cada plano.
É interessante ver cada pessoa da equipe revelar-se como mágico, tiram cenários da imaginação e eis em alguns minutos um lugar desconhecido, nunca habitado. Até os moradores Sr. Miguel e Sr. Mário, da família Neves, ficam surpreendidos com tamanha produção e ocupação. Sabe, a sensação que me tomava em alguns momentos, era de que estávamos numa casa de nossos avós passando uns dias de férias. Naquela varanda tão grande, tão aconchegante, mais que não chegava perto do coração e da simplicidade contida pela família que nos acolhia. O contato era farto. No decorrer das filmagens, entre um plano e outro, ocorria outros planos ali sentados com Sr. Mário e Senhor Neves.

Já ouvi muito sobre humanizar um espaço, mais ser humanizado por ele é uma dádiva de experiências que pode acontecer e passar sem perceber. Enquanto, o som da ação é proclamado, leva com ele toda graciosidade e acolhida que a família Neves ofereceu à nós. A casa revelava interferências no som, em alguns casos os carros, em outros a encenação da vida num canto do pássaro, que sabe o momento certo de entoar sua música ao comando da ação, deixando a sensação semelhante a uma coincidência. A natureza vinha ao encontro de nossos planos, revelando sua sigilosa e extrovertida participação. Thiago não imaginava tamanha sonoplastia natural captada num só lugar.

A potência do encontro entre a equipe era tremenda, como imaginar realizar uma tarefa e vir a ser um grupo operativo, pensando improvisos para cenas alcançarem a mais alta proximidade da imaginação. Grupos também provocam frustrações e emoções, como o rompante de membros da equipe com o ator que carrega consigo a missão de fazer um papel tão duro. Nesse momento senti como “o cinema imita a vida” (texto de Claúdia do Canto). A concentração torna-se algo difícil quando uma piada surge por um ator aguardando sua próxima cena.

A comida preparada por Diva trazia na etimologia da palavra o significado de inspiração para continuar sustentando a peleja do trabalho. Pratos saborosos com gosto de carinho e vitaminas de energia para continuar firme na lida.

O mágico, geralmente, faz a mágica e depois mostra seu método. A Cláudia mostrou seu método antes da magia na direção de arte usando uma artesanal paleta de cores. Ficava um mistério no set, logo após o cenário ser montado, eis que sai da cartola uma linda fotografia.

Tobias deixava de tomar café com leite para deixar primeiro os companheiros de equipe satisfazerem-se. Fico em dúvida, pois acho mesmo, que ele se alimentava de cada cena realizada, e uma a uma não o saciava. Não havia limites para sua concretização de planos, câmeras de joelho, elevada ao alto e trilho sobre rodas.

Olha, a produção conseguiu fazer e desfazer planos sem que locações e figurantes se aborrecessem conosco. Sem dar-mos conta, ela fortalecia os laços no contato com cada pessoa da locação. Quando chegávamos era somente se preocupar com as tomadas, o que era difícil, pois, cada lugar era peculiar e chamava nossa atenção. Ficando difícil se concentrar na ação.

A Rosa e Boneco formam os pares do mundo ou até mesmo sua ambigüidade, fineza e dureza, alegria e tristeza, rancor e humor, são umas das coisas que um sentimento pode compor.
(Impressões durante o processo de gravação do filme A Rosa e o Boneco)