Andre Dahmer

domingo, 29 de maio de 2011

sensibilidade anacrônica

Ah, saudades daquela veste tradicional
Uma sobrecasaca e cartola a lampejar
Que injusto o contemplar da mordacidade!
Há quem sinta a sensação deste trajar
Reminiscências vertiginosas de tempos colossais

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domingo, 22 de maio de 2011

Luta Antimanicomial: um estado de variação


Desde os anos 1980 ecoa vozes de uma luta antimanicomial que foi e ainda é mal entendida, pois, à medida que encontramos com ela nas atividades profissionais, vamos aprendendo a reinventá-la. Desde Pinel arrastam-se as formas de saber, poder e fazer um movimento entre o normal e o patológico, que imperam e deixa um fenômeno quase a margem da sociedade. Quero deixar claro aqui, que todos os campos de conhecimento e prática dos profissionais que atuam no cuidado e na saúde, deixam marcas da atomização no seu itinerário sem perceber algo interessante que escapa. As formas de contenções foram mudando, na formas e nas explicações, digo isso porque permanece uma mesma forma repressora e desumana (amarrar, medicar, deixar quase isolada num leito) no cuidado em saúde, com justificativas diferentes que acabam se conformando.
            O serviço muda, mas a cultura prevalece, por talvez não dar conta e no amedrontar-se diante do não entendimento, perde-se outras formas possíveis, essas por vezes estão além de algo institucionalizado. Já estou pensando aqui algo além dos serviços colocados hoje como substitutivo, pois, um tipo de serviço não é uma ilha que têm de dar conta por si só de algo que envolve toda a sociedade. Digo isso porque o cuidado, ou diria, o encontro com algo que lhe é estranho ou não aceito, escapa em vários lugares. Por exemplo, uma criança que se comporta dançando, fazendo careta, revidando, expressando de modo quase autônomo frente à um profissional da escola, será enquadrada em comportamentos inadequados e remetida à uma visita psiquiátrica. Pronto, a receita para a razão será dada e logo a infância estará fadada à um controle de sua subjetividade a fim de se adequar aos demais adultos “super-razão”.
            Aqui caberia dialogar com o mito de Demiurgo que resolveu fazer o mundo, usou dois ingredientes que já existiam e os misturou. E quais são eles? O Mesmo e o Outro. Depois quem quiser pode tentar essa fórmula em casa. Um pouco de Mesmo, um pouco de Outro. Mas ocorreu um acidente. Quando o mundo parecia ter adquirido alguma estabilidade, o Outro escapuliu. Porque é da natureza do Outro tornar tudo aquilo que é de um certo jeito de outro jeito. Ele é um capeta indomável, é um pequeno demônio. E o Demiurgo sentiu muita dificuldade para conter o Outro, para acuar o Outro, a fim de conseguir que o mundo tivesse um mínimo de ordenação*.
            A cultura prevalece e as pessoas pouco a reconhecem quando remetidas à prática em saúde. A  história parece ser fogão à lenha, permanece durante um tempo aceso, a comida fica pronta, comemos, e logo o fogo fica ali até que as cinzas se apaguem, salvo num dia frio que o utilizamos para esquentar nossas mãos. Isso também já ficou na história, hoje o fogo é perpetuado pelo gás, invisível e pouco convidativo para sobre ele esfregar e esquentar nossas mãos.
            Essa cultura tem dificuldade em lidar com algo desconhecido, é preciso dar nomes, classificações, para não ter insegurança. O desafio está na relação com o outro, tentar entender seus desejos, por mais estranhos que estes possam (a)parecer. Uma cultura do cuidado é política, indo ao encontro, não permanecendo estática na sua forma. É preciso criar, envolver territórios a fim de potencializar essa criação. Reinventar o cotiando a cada enunciação de vida.


* PELBART, P. P. Um convite à cultura: nem o império da ordem, nem a inércia do caos. In: Caderno Saúde Mental (ORG.) Ana Maria Lobosque. Encontro Nacional de Saúde Mental, Belo Horizonte – MG, 2007, v. 1, p. 11 – 20.