Andre Dahmer

domingo, 14 de agosto de 2011

Oração de aniversário pelos 63 anos de Santa Gertrudes

"Tudo que existe, resiste"
(Primo Levi) 

Ah Santa Gertrudes, 63 anos que resistem ao tempo, mas não deixa de transparecer seu desgaste. Saudosismos quase estão em extinção. É como o arrancar de raízes do solo que agora estão plantadas em meio ao concreto. Tudo é festa. Festeja-se a migração sem condição. Entorpece para trabalhar e trabalha-se para entorpecer. A felicidade se resume a um carnê de prestações infinitas. Dura pouco, mas termina um contrato e já começa outro. Tudo é festa. Afinal, o entretenimento tem sua função. Santa prostituta. Saciam seus desejos e a deixam no relento. Gozo perverso. Só querem tirar proveito. Usam e abusam . Frustrantes da ilusão. Recalcados pelos patriarcas. Cabe fazer uma parada para ela respirar. Ham. Ham. Falta-lhe o ar. Procura-se oxigênio. Pronto, colocado o aparelho. Veja seu pé como está vermelho. Estou aqui lembrando. "Viu o quintal da infância cimentado. Sem terra e sem memória"*. Progresso não combina com concreto. Vejo prédios e mais prédios. Que tédio. A cultura se encontra só. Só não é cultura. Valei-me Santa educação. Olhe, ela quer dançar. Mesmo depois de tanta usurpação, ela quer dançar. Que vitalidade. Até quando terás matéria viscosa, Santa? Tua chaminé agora é outra. Onde há fumaça há.. partículas no ar. Que tua erosão um dia possa se recuperar. Que teu bosque tenha vida. Santa música. Santa saúde. Santa arte política. Rogue por nós. Que as Vozes do alto-falante deixem surdos os atrozes. Evoé. Axé. Shalon. Amém.




* Jaime Leitão Histórias Concisas. Microcontos, 2007.