Andre Dahmer

terça-feira, 20 de março de 2012

Bu(r)la da medicalização: improvisando a infância

Estou inquieto, como uma criança que não quer parar. O mundo pra mim está em ritmo acelerado, dando muitas voltas, acho que até mais do que de costume. Sinto tantas coisas ao mesmo tempo, meus sentidos parecem ficar num frenesi diante desses estímulos externos. A vida quer viver. Aí já vem a pergunta "como?". Começa a confusão. A criança aqui se mobiliza, produz, não quer parar, há tantas culturas para descobrir. Papai e mamãe querem que me condicione á uma cultura, fico sem entender, me pergunto: se no mundo há tantas possibilidades, tantas coisas a experimentar e imaginar, eu tenho que me adequar? É muito confuso pra mim. Fico triste e ao mesmo tempo quero ver os que estão próximos de mim ficarem felizes tentando me adaptar ao modelo de vida inteligente e controlado. É, o mundo parece ser mesmo controlado como eu controlo meu carrinho. Controle na mão e tudo certo, vai para onde eu quero. Parece ser assim as coisas. Engraçado, me lembrei de uma pergunta de um amigo: por que fazem carros para correr a 280 km/h se a velocidade máxima permitida é de 100/110/120 km/h? Sabe, isso realmente é estranho. Hoje fui ao médico, dizem que estou muito agitado e não consigo aprender. Realmente é complicado se ater aquela tarefa isolada que a professora passa, fico pensando tanta coisa, quero escrever histórias que sempre estou a inventar, mas, preciso fazer e aprender aquela regra de gramática. Será que tenho algum problema? Acho que sim, mas, meus pais e o médico sabem o que estão fazendo. Minha mãe diz que os médicos estudam bastante, devem mesmo saber das coisas.
Sei que pode ser estranho, mas me veio mais uma pergunta: por que eu tenho que dar atenção para uma cultura e ela não dá atenção pra mim? Eu tenho que parar, desacelerar. Por que tudo a minha volta não que parar? Vejo tantas coisas: TV, outdoors, visito vários sites. Há tantas coisas para decifrar, sentir e expressar sobre isso tudo. Ainda vou revelar tudo que imagino aqui. Que sono, já estou no décimo dia de tratamento tomando medicação, dizem que é um diagnóstico de um tal de T.. alguma coisa. 

Espera, vou contar para vocês, parei de fazer uso desses medicamentos. Sim, quero primeiro pensar e conseguir responder todas essas perguntas que me deixa inquieto. Quando conseguir eu começo o tratamento. Não conta pra ninguém, tá bom?! Esse é o nosso segredo. Ah, a medicação eu coloco no cofrinho, quem sabe renda alguma coisa.


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